As vozes e as imagens da Caatinga
Pouco mais de 67% da população brasileira vivia nas zonas urbanas em 1980, segundo o IBGE . Na década de 90 essa taxa cresceu para quase 80% dos brasileiros. O jornalista e produtor Valdo Vale foi um dos que avultaram essa taxa em 1987, quando deixou a pequena Vila de Santa Rita, no interior do Ceará, a 5km do Município de Quiterianópolis.
“É claro que muita gente foi embora. O retirante luta pela sobrevivência, para criar a família, pra ver os filhos crescendo e ter possibilidades”, comenta Vale sobre sua jornada para encontrar os pais, retirantes estabelecidos no Maranhão. Inicialmente foi para São Paulo e Rio de Janeiro de onde seguiu para Barcelona, na Espanha e depois para Acapulco, no México. Foram 18 anos longe do Nordeste, formou-se jornalista, roteirista e atuou na área cinematográfica.
Há cinco anos o Cineasta retornou à Região e juntou-se à Associação Comunitária de Santa Rita, onde nasceu a ideia de um “agente de transformação através do audiovisual”. Conheceu pela primeira vez parte da família, sua cultura e também a Caatinga. “Eu não tinha muita identificação com as nossas tradições, morei 14 anos em um lugar que não conhecia, quando se fala em Caatinga a primeira impressão é a de um Bioma sem vida e não é o caso.”
Assim, há um ano, surgiu o Polo Audiovisual de Santa Rita, como subprojeto do Projeto Mata Branca – uma parceria entre os governo da Bahia e do Ceará para empreender ações de preservação da Caatinga; com recursos próprios, do Governo Federal e doação do Fundo Internacional do Meio Ambiente, através do Banco Mundial - que liberou os recursos para compra de equipamentos e capacitação de jovens e adultos de Santa Rita e comunidades vizinhas.
Hoje, Vale afirma que o Polo busca a “conservação” da Caatinga. “Quando fala-se em preservação, direciona-se muito para a fauna e a flora e o Bioma Caatinga vai além de todas essas questões, temos as figuras humanas,” explica o jornalista, sempre lembrando que o Polo “surgiu para dar voz a essas pessoas, a essa cultura”.
Sobre o Polo
O Polo já produziu dois documentários e duas séries, atende mais de 300 jovens e adultos com oficinas de Produção e Edição em Vídeo e Artes Cênicas, além de cursos de Violino e Sopro; Violão e Teclado; Arte Dramática; Produção em Vídeo; Capoeira e Monitoria Ambiental. Promove apresentação de reisados com grupos regionais e exposições itinerantes de fotografias acerca da Caatinga.
Os monitores ambientais visitam semanalmente a Cachoeira do Penha para empreender ações de educação ambiental junto aos membros da comunidade do entorno e visitantes. Estão também organizando um banco de dados da área. Segundo Valdo, 99% dessa região foram completamente devastadas e a única trilha de acesso à Cachoeira que restou abriga mais de 18 árvores em extinção, próprias do Bioma Caatinga.
De 13 e 16 de maio acontece a 3ª edição do Festival de Arte e Cultura de Santa Rita e em paralelo o 1º Festival de Vídeos e Cinema, mais uma iniciativa do Polo.
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